terça-feira, 16 de abril de 2013

no cabaré verde em março

A senhora careca varre seu quarto às onze da noite com os peitos de fora.
A janela de vidro quebrada, um rombo e uma cortina suja para tampar a feiura que vinha da sua solidão.
As putas vomitam a tristeza em quartos sebentos, os travestis preferem dar o cu na estação da Luz.
A puta-mãe acorda cedo e senta na escada imunda,  procura um velho porco que lhe ofereça 20 reais por uma chupada. Seus olhos tristes e sua roupa pseudo elegante me permite a pena.
Os corredores vazios de amor e cheios de dor, flores de plástico empoeiradas, vidros coloridos quebrados, pílulas do dia seguinte e camisinhas usadas jogadas no telhado da igreja ao lado.
A velha careca sai pelada com uma arma na mão ameaçando matar os drogados cheirando pó na sua porta. Exige o mínimo de dignidade no seu doce, doce lar.

Quanto amor e dor no cabarézinho do Brás.
Eis que me perdi na tontura de viver sob esse céu fumegante.
Cantando e chorando, enquanto esperava sozinha por algo.

Minha casa, meu cabaré, meu universo submerso no vão da sarjeta de São Paulo.