quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Curada

Todos acham que estou curada. E além: já que curou, ela precisa ser boa para todos o tempo todo, não pode dizer não para ninguém nunca e não tem mais direito de ficar triste, nervosa, estressada nem ter uma maldita gripe ou dor de garganta. Não pode "se fazer de coitada" e não pode ficar quieta, porque isso parece que você está estranha. Tá bom pra você? Afinal você causou muito por tempo suficiente e agora você está curada e por isso você virou uma coisa que inventaram, uma máquina de não ter sentimentos, uma espécie de robô do bem.
Chega! Eu não estou curada. Eu sou limítrofe, borderline, louca, mimada vitimista seja lá mais do que você quiser chamar essa merda.  Não tô curada. Só eu sei o quanto me esforço para andar na linha, para ser uma boa mãe, para não perder a paciência. Para ser legal com os outros. Para tentar ser útil e agradável. Só eu sei a crise de identidade que passo, de vazio pessoal, do tamanho da minha baixa autoestima. De como me sinto só. Ninguém vê nada além do que quer ver, afinal, todos estão submersos em seus próprios universos paralelos, suas necessidades, seus vícios, suas manias, fabricando em suas indústrias de ego mais e mais problemas.
Eu
Também
Estou.

Não tenho cura. Vocês também não.

quinta-feira, 17 de maio de 2018

Uma desculpa para o Tramadol

Eu não sei mais quem eu sou - é fato. Me perdi no meio das fraldas, da amamentação em livre e longa demanda. 3 anos já. Eu me perdi em meio a Peppa Pig e a Galinha pintadinha. Meu hobby é dormir (sempre foi, claro, mas veja bem, é o único que ainda me restou - apenas porque é uma função fisiologica) 

Julgo veementemente quem recuperou a identidade depois de ser mãe. E tenho Inveja também. Lá no fundo é inveja sim!
Porque eu me debrucei sob essa demanda de ser mãe, de amar aquele ser pequeno mais que a minha própria vida e continuo a me culpar se faço algo para meu próprio ser. Melhor nem fazer. Ah, olha a culpa!

Quero ser mãe, eu sou mãe. Mas quero ser Thais. Quero parir meus textos, quero dar uma boa risada em alguma sargeta da vida, brindar com copo de plástico num bar vomitado...sem me sentir culpada.

CULPADA

-

Então, arrumo desculpa para tomar um tramadol que a senhora que trabalha na empresa lá, distribuiu, após cair e operar o pé. Ou sei lá qual é a história.Só sei que tem Tramadol! Haja dor nas costas!

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

às vezes sinto falta de chorar

E espetar agulhas no meu peito, sentir uma dor que não vem de dentro.
Me perdi tanto, que me encontrei - a beira da normalidade. Tão caoticamente mediana! 
me encontrei sem nome, não tenho nome, sou um pronome. 

encontro ventos divertidos, bolhas de sabão
eu engulo minhas vontades goela abaixo. Choro baixinho no banheiro.
Minhas vontades são as suas. O que você deseja, meu bem?
eu 
faço
tudo 
por
você.

Eu deixo de ser
eu viro um super ser
ou me transformo no seu brinquedo favorito

tudo
por
você