segunda-feira, 28 de setembro de 2009

COURO.



"Lingua de tiras de couro, a correia o espera/ Sinta o gosto do chicote, do amor não dado [...]"
[Velvet Underground]

A minha pele é de couro. Couro de lagarto, para ser mais específica. Talvez uma falha paterna em minha sórdida infância tenha colaborado com a produção do meu tecido, e aqui estou eu: um dos couros mais bonitos e elegantes entre peles mais exóticas. Também tecido fútil e desnecessário. Sou luxo e sofisticação, embora caótico e de viés impulsivo.
Tenho o tempo como meu maior aliado, e com o passar dos anos meu couro fica ainda mais atraente. Sendo assim, confesso, sei fazer um jogo de sedução, consigo te manipular facilmente, e você pode não resistir e gastar até seu último vintém tentando comprar-me.
Sou extremamente impermeável, e não deixo qualquer um pisar em mim, embora para entrar no meu mundo - ora sádico, ora masoquista - basta vestir-me por cima de sua pele quente, onde eu serei o teu spleen, o teu baço e o teu sangue.
Meu couro é tão resistente, que nem um tiro de rifle faria efeito, resistente posso ser por fora, porque por dentro dói ser tão vulnerável, fria e vazia.
Sei que, ou me amam ou me odeiam. Sofro assim sendo, um pouco desumana ou humana em excesso, contraditório ou não, tornei-me couro.
Como virar seda, se não sou nada além de um tecido da geração prozac?

HAHAHAHAHAHA....