domingo, 8 de agosto de 2010

comendo um corpo morto.

Eu sou uma aberração. Uma porra de uma aberração. Tenho cinco anos de idade dentro desse corpo comprido e cheio de imperfeição.
Todos os orgãos do meu corpo acabaram de nascer, especialmente o meu cerébro. Tenho mais de 100 bilhões de neurônios girinos germinando e morrendo dentro dessa merda de cabeça. Por fora, meu esqueleto tem vinte e dois anos. A face ainda tem cinco. Olhos de criança pidona, grandes olhos que tudo querem mas lambem com a testa a maior parte do tempo.

Toda criança tem um cerébro elástico, pronto para crescer. O que tem dentro da minha caixa craniana é inflexível. Retrocedendo esporadicamente.

Os anos que se passaram além destes cinco que possuo foram inalados para dentro de mim. Como grossas carreiras de cocaína, os anos foram devolvidos para sua fonte: meu corpo. Foi uma grande euforia viver vinte e dois anos sem lembrar de absolutamente nada. Depois que os anos voltam para dentro, jorra sangue quente de dentro do nariz, expulso toda a felicidade e o que volta para dentro é a capacidade de diminuir minha vida cada vez mais e para menos; pálida e chorona, a bad da farinha é a minha eterna infância, correndo por todas as veias e artérias, chegando finalmente ao coração semi-novo da garotinha que ainda rabisca a cara das bonecas.
E ela nunca vai crescer. Nunca.